domingo, 30 de novembro de 2008

o silêncio nas palavras…

silêncios…
mastigo as palavras
e tu
na ombreira dessa porta,
adias a partida que o teu olhar prometia.
o teu olhar que violentamente no meu aporta,
é um navio chegado ao cais numa ensurdecedora cacofonia.

num libelo acusatório,
de dedo apontado ao mais fundo de mim;
culpas-me da natureza que o tempo tem.
mas meu bem,
que interessa a culpa, agora que chegamos ao fim?
não vemos tudo à nossa volta ruir!?
vai então,
senão… terei que ser eu a fugir.

e isso,
seria revelar-te o que há muito em mim procuras.
verias que foram reais todas as minhas ternuras.
já não irias seguir esse caminho.
e eu… eu quero ficar sozinho!

quero sentir-me abandonado…
o tempo é chegado,
a solidão chama-me pelo nome.
em mim há tanta coisa que se some.

de ti, já só quero a memória esbatida pelo tempo.
um vago sabor do antigo sentimento,
a amargar-me os lábios sedentos dos teus beijos.

a vida é-me uma constante procura de sentido.
sempre sempre a dar-me como perdido.
narcotizado na imaterial natureza dos intensos desejos.



leal maria

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

no teu olhar que me interroga...

no teu olhar há uma interrogação
sobre a natureza das coisas onde te perdeste
olhas
vês disforme a sombra que te desenha no chão
e tens consciência que nela te reconheceste

numa súplica desesperada,
procuras agarrar a esperança que há muito te fugiu
e a vida adiada 
nega-te o futuro que a poucos permitiu

recusa essa mortalha de desespero
vem
segue-me como antes
vou em busca do que quero
a vida,
é-me eterna nos seus breves instantes

olha mais adiante
olha p´ra lá daquilo que te querem deixar ver
cerra os punhos
que viver de cócoras é a pior forma de se morrer

quantos semblantes por ti se emudeceram?
que dores se aumentaram com a tua tristeza?
nenhumas lágrimas por ti se enterneceram
pouco lhes importa a tua sensível natureza

tira do rosto o que em teu coração se sente
dissimula no olhar essa ânsia que te consome
somente nos reconhecerão
quando lhes ferrarmos o dente
nas suas carnes golpeadas é que nos descobrirão o nome





leal maria

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

…e o dia que virá, dissipará a escuridão da noite.





nos meus dias tomados pela escuridão,
trajados de um triste cinzento…
no mundo destruído pelo deserto que trago na mão,
na cruel melodia de um nefando lamento…

sei que me manterei de pé!
não soçobrarei à tempestade!
porque faço minha profissão de fé
na força que vou buscar à vontade.

p´ra lá de todos os altos muros
que teimam em barrar-me o caminho;
encontrarei a luz que me dissipará os dias escuros.
e então não caminharei mais sozinho…

olharei de frente a incerteza;
na sua mais crua fisionomia...
dela farei a minha intrínseca natureza,
dançará ao som da minha poesia.

porque nada me amarra ao medo!
a noite não é eterna nem em mim perdura!
procuro sempre decifrar todo o segredo,
do dia que vislumbro na lonjura…

e na força do meu braço esforçado,
no desassossego d´alma inquieta;
far-me-ei argonauta de um mar não navegado,
que o tesouro maior se encerra na descoberta.

será num grito a plenos pulmões,
que anunciarei o que tenho de mais profundo.
pois em mim batem mil e um corações...
e sou guardião dos sonhos todos do mundo.



leal maria

sábado, 22 de novembro de 2008

o corpo sem vida do soldado

Hospede inúmeras fotos no slide.com GRÁTIS!



o teu corpo sem vida que a terra abraça
embrenhou-te no final momento por que tudo passa
fazendo de ti a fisionomia da morte

deixou-te nas mãos o ultimo gesto de amor
com o qual te sublimarias na dor
aceitando o que te coube em sorte

e as razões pelas quais combateste
mal respondem a quem pergunta porque morreste
escondendo-te da memória dos que ti se esquecerão

coube em ti a força toda do mundo
que arrancaste do teu abismo mais profundo
que se achava num secreto lugar do teu coração

mas tudo é agora tão desprovido sentido
tudo o que foi sonho teu, está perdido
e nada mudará a imutabilidade que em ti perdura

afinal já não passavas de um imenso vazio
aonde eras fogo sobreponha-se o frio
e o teu ódio se fazia uno com a ternura

foste soldado feito para uma qualquer guerra
não te importando o sangue que vertias sobre a terra
apenas apegado a essa marcial irmandade

embriagado nessa orgia da violência
nada mais sabias do que essa ciência
onde se confunde a mentira com a verdade



leal maria

…o incerto na linha do horizonte

já tão frágil…
a memória que em mim há do teu olhar,
desvanece-se à força da minha vontade.
e os passos que dou,
já não são para te procurar;
e deixei de me chamar saudade…

mas sabes!?
é imenso o vazio que ocupa o espaço,
que eu te forço a abandonar.
e sinto, no profundo de mim, o abraço;
que envolve de frio o meu sonhar.

troquei as voltas aos desejos…
agarrei firme os instintos que me perdiam!
que o destino não se verga à força de beijos;
e o mundo não é dos que se refugiam…

e nos trilhos
que agora me indicam a direcção,
não lhes reconheço
nenhuma das geografias que em ti sonhei.
sigo caminho,
sem que nada agarre a minha mão;
e do destino que me espera, nada sei!

mas foi sempre assim que eu quis!
o incerto fazendo-se horizonte do meu futuro.
entre o gesto que tudo e nada diz.
coordenadas…
alternando-me entre a luminosidade e o escuro.




Leal maria

quando a primavera chegar...

para tudo há um termo
tudo atingirá um limite
haverá sempre um lugar mais ermo
que nem um ponto luz emite

então, o imaginário e o sensível
serão ilusórias substâncias
um diferente nível
pelas múltiplas circunstâncias

olhar-nos-emos até onde a vista alcança
chamar-lhe-emos horizontes
soçobrará a frágil esperança
for não saber-mos o que há p´ra lá dos montes

a espiral alucinada
nunca será circunferência
porque uma humanidade açaimada
torna vã, toda a ciência

e o que hoje parece infinito
inundar-se-á pelo finito
enchendo-nos de constrangimentos
o Homem sempre temeu os íntimos sentimentos
encerra-se e socorre-se em deuses castradores
na vã tentativa de se sonegar às dores

põe um sorriso no rosto,
olha o sol e segue em frente
não tarda está aí a Primavera.
o calor que me consome a alma já o sente

terça-feira, 18 de novembro de 2008

...nas mãos que fazem o abraço.

depois de tantos e tantos abraços,
falham-me agora as mãos,
para dar o abraço maior!
há sombras,
que me chegam em sorrateiros passos;
fazendo segredo
do mais ínfimo pormenor…

e o meu corpo;
tão saciado nos sentidos...
perde-se no sossego da minha alma.
e é em vão que busco uma razão
por entre achados e perdidos,
que me ferisse de ânsia toda esta calma.

não tenho pressa!
já não quero tanto lá estar…
naquele outro lugar…
será sempre longa a espera!
há outras quimeras a cortejar,
no perpétuo correr atrás da eterna primavera…

mas em tudo descubro o desejo,
que me faz levantar e no sonho persistir.
um poema;
um toque de lábio num beijo;
e uma alma embalada na abrupta viagem do ir…

aaah… e o regresso!
a doce amargura do reencontrar…
saber que mesmo com o mundo todo em mim possesso;
se mantém intacto o meu amar.

e no permanente jogo do azar com a sorte
ao sabor do meu querer nas suas diversas marés
a memória recusa que eu lhe dê a morte
porque sabe que dela preciso para saber onde apoio os pés…

olho e já não sei,
onde foi a partida e se vislumbra a chegada…
o incerto que se faz em mim lei,
não dá coisa nenhuma por acabada…



leal maria

sábado, 15 de novembro de 2008

o ensurdecedor silêncio do que fica por dizer...

eram ainda tantas as coisas
que havia a dizer...
nas palavras que no silêncio amordaçamos.
mas no sonho,
que quis o acaso que houvera-mos de ter,
traímos o juramento em que nos empenhamos.

juntos; percorremos caminhos
que outros tão cobardemente abandonaram…
mas no fim,
achamo-nos tão sozinhos,
que já nem a nós próprios
os sonhos se justificaram.

mas que raio…!
afinal, tivemos na mão a vontade,
com que num imenso querer,
segurávamos o mundo.
fizemos aos repelões
fragmentos da ideal cidade;
entre os corpos sentidos,
num improvável amor profundo.

mas o teu corpo amansou
nesses mimos a que te deste.
definhou na doçura
das coisas dadas de mão beijada.
e eu deixei-me embalar,
por esse suave canto que me fizeste;
fazendo do irrisório,
coisa por mim muito desejada.

mas isso agora acabou!
ouço já os novos cantos que me chamam!
e nesse lugar para onde agora vou,
há dialécticas que a alma me inflamam!

deixo-te aí…
nessa prisão em que te meteste.
nesse deserto…
por entre frases tão vazias de conteúdo
porque da loucura que me prometeste
somente me resta a poeira de um sentir miúdo

mas não chores… nada lamentes!
há sempre um fim,
que impaciente, esperava um começo.
não sei o que hoje deveras sentes!
mas do teu corpo à minha palavra,
vai uma distância que de todo desconheço...



leal maria

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

...o caminho que medeia um abraço e um beijo.

a meio do caminho,
entre um abraço e um beijo,
matei,
por momentos, a vontade de ti me servir…
olhei e vi-me sozinho…
tão longe desse teu desejo…
que não sei se me afastei ou algo me fez fugir!

quantas hesitações
antecedem o tempo em que nos damos?
que sonhos esperamos encontrar
neste despojar de nós?
permutamos os corpos
como um salvo-conduto para onde vamos;
e faz-nos correr o medo que temos de ficarmos sós…

essa mão,
que tremendo me estendes,
provoca-me uma covardia
que me impele a agarrar-te!
não desperdices essa lágrima e vê se entendes;
o quanto me fragiliza
a intensidade do meu amar-te.

apenas uma ínfima parte de mim
é a que te dou!
regateio
cada pedaço d´alma que me vens tirar!
no entanto,
sinto que me tens em ti muito mais do que eu sou…
e isso é muito mais do que eu te queria dar!

mas na relutância
com que me entrego a essa escravidão;
encontro os grilhões que me ancoram à liberdade…
todo um universo unido
no agarrar da minha e tua mão,
justificado no teu olhar
a brilhar de antecipada saudade…




leal maria

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

...passo além dessas vacuidades!

no emaranhado das frases feitas,
de sentido adulterado;
anseio realidades que julgo mais perfeitas;
vou-me para outro lado...

passo além de todas essas vacuidades!
procuro afoito uma outra razão!
em que o tempo, marca o passado a saudades;
e o rumo do futuro desenha-se no suor da minha mão.

regresso desses caminhos tão desertos,
que a permanente insatisfação me fez buscar.
andei à deriva em tantos afectos,
nesta minha ânsia de tudo querer amar.

procuro agora o essencial;
onde o acessório não me faça a necessidade.
para lá de uma noção do bem ou do mal,
regresso à fisionomia d´alma que me faz identidade.

e no novo leito em que me deitar,
cobrir-me-ei com a vontade;
de quem faz a sua própria lei,
no egoísmo sentido de uma antiga lealdade.

parto à conquista da maior idade;
onde não se desperdiça o dia a dia.
busco uma outra musicalidade;
em que a palavra,
não prescinde da sublimação da poesia.

serei o completo “eu”;
subtraído às mil e uma minudências do mundo!
e nesse desejo maior que é o meu;
viverei a vida como no fogo fátuo de um sonho profundo…


leal maria

...

um novo rumo; um novo recomeço
para trás deixo à espera a memória
porque o que fui não esqueço
e eu sou tudo aquilo que se fez a minha história


esse caminho que agora enceto
não é mais do que a continuação dos que já fiz
porque tenho o longe e o perto
na raiz dos sonhos que eu sonhar quis


e os sentidos enganam-me a cronologia
baralhando o passado com os futuros
esculpem-me no desejo a ancestral geografia
e à vontade dão-me a força para derrubar todos os muros


e tu,
aí tão escondida na minha conveniência
sempre à espreita de uma oportunidade
complicas-me essa tão aparente simples ciência
que é eu fazer-te de mim ausente; dura e doce saudade


mas deixo para trás o que para trás ficou
tenho ali outros mundos para habitar
porque o sonho modifica-se mas ainda não soçobrou
e eu aqui parado recuso-me a ficar


não digo mais nenhum adeus
foram tantos na minha vida que já me bastam
todos os que acenei assumo como meus
e mesmo assim as quimeras ainda me arrastam


para quê então as despedidas
lágrimas sempre as haverá
haja um adeus ou não
prefiro a perpétua busca das coisas perdidas
do que ver vazio de esperança o meu coração


seja feita a minha vontade então!!


leal maria

...

foste o poema primeiro,
que em mim criou
emoções com forma e espaço.
dando um corpo de palavra
aos meus sonhos;
e trazendo-me os desejos medonhos,
das almas e corpos
irmanados num universal abraço.

tudo no universo se desvanece…
somos apenas cósmica poeira
à deriva no espaço sideral!
mas a palavra perdurará
para além do que de imediato acontece;
e o ridículo do que se disse
perder-se-à com a ingenuidade original.

por isso te invisto
com a dignidade de seres o primeiro.
porque em ti há a minha vida toda
feita num imediato impulso!
sou eu na minha natureza por inteiro;
procurando os paraísos,
de onde nenhum homem seja expulso…

mas hoje, ao recordar-te…
enfim; rever-te!
vejo-te como o princípio de um imenso adeus.
porque pelo sonho que és,
é perpetuo o meu querer-te!
e tudo posso perder,
mas os sonhos,
esses, serão sempre meus!

e quando,
no porvir do inexorável tempo,
o rosto que te deu origem;
começar a desvanecer-se
da memória do meu sentimento;
ficará a palavra então tão virgem;
deixando para a eternidade,
a poética imensidão de um perfeito momento…





leal maria

domingo, 2 de novembro de 2008

...

a vontade amordaçada na minha mão
esperando a justa razão
que me fará levantar deste chão
quando a fúria não for em vão

neste chão em que me deito
com o desejo ardendo dentro de mim
libertar-se-me-á o grito dentro do peito
onde principiará o esperado fim

e tu, já no desespero pela longa espera
com o olhar definhando de tão vazio
nos escombros, tentas vislumbrar a nova era
dos renovados tempos que eu te anuncio

mas espera um pouco mais
ainda não é chegada a hora
só mais uns quantos lamentos e “ais”
para que possamos ir embora

caminharemos unidos
numa improvável irmandade
com os lábios cerrados na força do desejo
seremos o vento que passa
vergando tudo à sua vontade
e a destruição será o nosso apaixonado beijo

numa imposição, como as outras tão injusta
a novos dogmas farei ver a luz do dia
numa prepotência que em mim é tão vetusta
tudo será conforme a minha filosofia

seja feita a minha injusta vontade
assim na terra como na tua alma
tempos haverá
em que dos pretéritos tempos terás saudade
porque trarei a tempestade à tua mareação calma




leal maria