no teu corpo saciado,
na dolente quietude de quem acabou de se dar,
adivinho-te no gesto momentaneamente adiado,
a promessa de um renovado amar.
meu amor…
(chamo-te assim, porque o sinto… mas também pela força do hábito!)
teimas enlaçar-me nessa carícia que ensaias nos dedos.
vês-me no olhar o acordo tácito
de quem se comprometeu desvendar-te os segredos.
porque me segues os passos?
que trilho insistes em desbravar para mim?
tampouco mereço os teus abraços;
quanto mais esse sentimento com que me olhas assim.
em mim reside o efémero,
o egoísmo dos deuses ciumentos.
presente e futuro às avessas com o passado,
numa incessante sucessão de outros intentos.
deixa-te perder-me.
abandona-me às sortes que eu escolher.
e ainda que haja em ti tanto querer-me,
não te faças tão minha, mulher.
leiloa-me a alma por todos demónios que existem;
para que se comprometam a aceitar-me no país que para eles inventamos.
lá, onde os rangeres de dentes ainda subsistem,
o meu corpo não reconhecerá este leito, onde ávidos nos devoramos.
sou um predador.
prisioneiro da ideia em que te guardo.
devorador…
a rubra alma tinge-se-me de um cinzento-pardo.
deixa-te perder-me.
abandona-me às sortes que eu escolher.
e ainda que haja em ti tanto querer-me,
não te faças tão minha, mulher.
leal maria