domingo, 21 de outubro de 2012

o corpo o suor e o sal (a dança)


puro dialecto da arte

exprimido

no vocabulário dos corpos entre o  desespero e a esperança

o todo e a parte

no parte e reparte

da fluída brusquidão dos movimentos

grandiosos como o sonho do Homem vir habitar Marte

ou estabilizar as voláteis fronteiras dos anárquicos sentimentos

o ir e o vir

em elipses tendentes à espiral

o corpo o suor e o sal

na pornográfica coreografia do sentir

ao ritmo da conquista do vazio

subtis nuances oscilando o quente e o frio

âmago do aparente sem nexo

promiscuidades consentidas

amor e ódio em prelúdios de sexo

rituais para os quais se faz pender todas as vidas

choro e riso na mesma fisionomia

grafia feita com a animalidade da humana anatomia

palco metafórico de tudo

megalomania de ser-se denominador comum do universo

sensuais caracteres de um idioma mudo

derrubando  fronteiras entre a prosa e o verso

orgíacos labirintos

explorado nos gestos cifrados do tronco pernas e braços

rostos rasgados por esgares de pretensiosos segredos

etérea e insuspeita leveza em firmes passos

esconjuro de todos os medos

orbita alucinada dos desejos

falso narcótico das mais intensas paixões

mãos que raptam aos lábios os beijos

e cobrem a nua carne de puras emoções

dialéctica do efémero com a eternidade

da vida com a morte

alicerce oscilante da saudade

de quem faz dos quatro pontos cardiais o seu Norte

 

 

leal maria

 

domingo, 14 de outubro de 2012

oculto


trôpegos lirismos
surgindo do nada
sem que os convocasse a vontade
sub-reptícios sentimentos
disfarçados de torpes lamentos
prometendo uma sempre adiada
maior-idade

mas efémeros
esvaem-se por entre os interstícios do querer
onde livremente fluem e adiante passam
falsa resignação para com o perder
como se urgisse um outro tempo
e novas as velhas quimeras que  se abraçam

substância dos dias que se foram
e se vai intuindo a mortalidade dos sonhos
persistindo a adivinhada imensidão do porvir
sentidos que se penhoram
em devaneios medonhos
com inabalável fé em promessas que tardam em se cumprir

atrapalha a linear memória das formas dos corpos que se amou
subtraídos às subtilezas dos cheiros da vida real
esconsas nuances do que obstinadamente se buscou
descobrir somente a memória alicerçar o nosso ideal  

entre tantos escombros  perdido
faltam em tamanha topografia do caos as referências
que orientassem num norte intuído
alma gerada por ocultas ciências

líricas tristezas
verossímeis  se as manifesto  assim de semblante tão circunspecto
mas a alegria que genuinamente sinto
contamina todas as minhas certezas
impregna o meu afecto
e coloridas são as as razões que na tela negra pinto


leal maria