os silêncios sobrepõem-se a tudo.
indecifráveis são-me as palavras onde busquei o pulsar do teu sentir.
fico mudo…
já só vejo o teu recorte,
no horizonte dessa estrada por onde estás a ir.
para onde vais não o sei.
abstenho-me de te o perguntar.
vás para onde vás, lá, a minha vontade não será lei;
abdico do meu direito de essas latitudes tentar conquistar.
deixo-te ir como quem vê a passagem do tempo
resignado a que o não possa reter.
vais-te, e o ires-te em nada contamina a naturalidade.
obediente ao acaso e ao teu querer,
fico guardião de uma mais-que-anunciada saudade.
ocuparei esse posto até a fadiga me dizer que já basta.
abandoná-lo-ei, claro,
quando pouco mais me fores que uma vaga lembrança.
o tempo; esse furibundo senhor que de tudo nos afasta,
devolver-me-á a capacidade de sentir esperança.
não sei a forma que terás então.
são infinitas as morfologias dos sonhos que ruíram.
Ruínas, que por certo(as assolará um vento suão),
darão fraco testemunho dos amores que se sentiram.
leal maria
domingo, 19 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
no verão que acaba, o fim do amor
na desesperada procura de um sentido para tudo
alicercei-me
de toscas retóricas que falseiam a realidade
ignóbil dialéctica
com que substanciei um idioma quase mudo
obstinado esbater de fronteiras entre a mentira e a verdade
quis o sonho promessa de um paraíso possível
recusei dar-lhe forma em limites aceitáveis
aos tropeções
avancei de um para outro nível
permutei essências não permutáveis
agora
quando já só me resta uma cidade em escombros
somente gritos habitam as suas ruínas
pretéritas irresponsabilidades
pesam-me em demasia sobre os ombros
como se concretizassem
todos os anátemas a mim lançados em dia de más sinas
caminho por entre corpos caídos
há neles fisionomias que no passado me desenharam o rosto
vitoriosos semblantes
na mais natural posição dos vencidos
como se fossem laureados a contra-gosto
confrontado com esta minha natureza ubíqua
perante a contradição de sentir-me de tudo exilado
travo uma batalha improfícua
onde combato num e outro lado
não há outro resultado possível que não seja a minha vitória
ainda que isso implique derrotar-me
procuro concluir uma paradoxal história
emaranhado labirinto onde espero encontrar-me
e se tantas foram as vezes em que me perdi
sei-o agora
nunca logrei achar-me
novamente embrenhado nas barbaras nuances das emoções que então senti
tenho como único intuito continuar a procurar-me
leal maria
domingo, 5 de setembro de 2010
"é a vida..."
“é a vida…”
sim, é a vida, eu sei.
evidente constatação de um inócuo lugar-comum.
reticências onde todos lá cabem
e há sempre lugar para mais um.
ideal lugar para eu habitar.
três pontinhos que tudo deixam em aberto.
de ubíqua natureza, vivo a realidade a sonhar;
estou longe estando perto.
em desespero, esperei quem não veio.
vi sempre um adeus nos braços de quem me abraçava.
meu desejo desaguou em anónimo seio.
não reconheci quem disse que me amava.
num jogo de azar ou sorte,
deixei que momentaneamente,
o aleatório predominasse sobre a vontade.
observei como a vida se alimenta de outra vida,
metamorfoseando-a em morte;
voraz autofagia que nunca atinge a saciedade.
filho do mutável,
corri o risco de perder o umbilical sentido de pertença.
mas nada dei como permutável,
porque somente possuo o adquirido à nascença.
meu choro inicial foi prenuncio de um grito de guerra.
declaração possível de uma independência total.
convicto na fúria de quem o seu primordial dogma berra;
declarei a liberdade como bem fundamental.
mas ai de mim,
nada disso me exigiu sacrifícios.
foi delito de consciência a que ninguém quis dar fim.
e do fragores de batalhas somente há resquícios,
daquelas que travei dentro de mim.
batalhas… se em tantas pelejei,
de nenhuma saí vencedor.
nada encontrei daquilo que nelas busquei,
para além de um efusivo clamor.
clamor de falsos gritos de vitória.
soube sempre ser inevitável a derrota.
vã orgulho de quem somente lhe resta a gloria,
de tentar endireitar uma vida que nasceu torta.
“é a vida…”
sim, é a vida, pois é…
lugar-comum que não dá a resposta que me é devida.
mesmo assim, manter-me-ei de pé:
esperando que no crepuscular horizonte, se esconda ainda a luz,
que todas as manhãs obriga a escuridão a declarar-se vencida.
leal maria
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