domingo, 30 de setembro de 2012

ao cuidado de V. Exas. deste Vosso...




porque não uma festa assim?
se dia após dia,
em circunspectos discursos, nos declaram guerra.
dizerem-nos: "não avançaremos mais… chegamos ao fim",
basta para que lhes provenha-mos leito em macia terra.

 
com a força do nosso braço,
alavancados em vontade de aço,
cavemo-las então companheiros, as sepulturas;
com a madeira do caixão os venha-mos a vestir.
há muito passou o tempo das ternuras.
exige-se mais do que o resistir.


leal maria 

da saudade


demasiada a intermitência das alegrias
tudo o mais  tristeza da ausência
da saudade a dor
se  mal recordo palavra das que me dizias
há a memória de cada suave acidente do teu rosto ao pormenor

dias que para trás ficaram
e ancorados os gestos coreografados pelo teu embaraço
gestos desenhando o limite onde meus sonhos se aprisionaram
o que mais de ti tive aproximado a um abraço

e insisto nestas recordações
como se a consequência de me abster desse exercício  
me privasse à tempestade das fortes emoções
d´uma alma em bulício

comigo as trago
sem a mínima convicção de necessitar a sua companhia
somente não consigo delas me livrar
capricho de não me abster do tanto que queria 
absurda insistência em continuar amar 

contradições com que sigo adiante
não vislumbrando mais que o imediato instante
e tudo se me depara já irreversível

obstinada é a vontade
quando impelida a saudade
ainda que de antemão se saiba a natureza do derradeiro nível



leal maria

sábado, 22 de setembro de 2012

cósmica imensidão de ínfima parte de mim


etérea natureza
ténue  luz  na memória coalhada
dolorosa certeza:
mudo é o grito da vontade frustrada
e covardia
não ter cumprido promessa que então  fazia
ao lábio que sorria
não ter permitido o desejo
atenuasse o cio pelo beijo

etérea natureza do esgrimir palavras
tentando a custo encontrar-lhes o ritmo certo
embrenhar-me nas mais complexas lavras
p´ra que na alma não me magoe mais este aperto

alma minha de consolo desejosa
nada profetizava  este vazio que em ti sobrevive
nada há que fazer se possa
alma de um quase nada
de ser quase, moribunda vive

e como decidir qual o lado
em que a luta me merece o trabalho mercenário
se tudo foi às sortes jogado
e mesmo assim não arrisquei o necessário

desta dor sei em detalhe a fisionomia
límpida imagem das dores que voluntariamente procuro
masoquismo metamorfoseado em poesia
dando corpo a afectos que na realidade descuro

obscura amálgama de emoções
tortuoso caminho feito a sorrir e verdadeiramente feliz
bater dessincronizado do meu com outros corações
opressiva liberdade tornando-me apátrida…
sem que me prenda nenhuma raiz

mas há um porto em que sonho aportar…
motiva esta deriva em que navego
a barbara circunstância de cada vez mais me afastar
testemunha ser o desenho do teu rosto o azimute onde no sonho me aconchego   




leal maria