domingo, 29 de junho de 2008

naquele suave entardecer



pueril ainda a emancipação do corpo
do tímido sorriso refém
incógnita a suave luz que o banhava
houvesse como testemunha outro alguém
não compreenderia como tu  
somente o altruísmo do olhar nu
ter podido testemunhar o tanto que se amava

é a memória matéria de que o tempo é feito
bem pôde a eternidade
germinar  naquele suave entardecer
nas coisas  que ainda hoje levo tão a peito
não seria aí um grande feito
aspirar a essa imensidão e a achar merecer

mas imperfeito o poema
a  inverosímeis teologias ancorado
não foi mais que um onírico fonema
em lamuriosas e vãs ânsias declamado

versos cinzelados na já longínqua  ternura
diferente substância das muitas ilusões que então derrubei
em demanda dessa desejada arquitectura
que me fizesse amar como então amei

assim seja
no enviesado caminho que fiz
houve de sobeja
a doce ilusão de poder ser feliz




leal maria

domingo, 22 de junho de 2008



um corpo na dança




o aplauso tudo  irá justificar
depois do corpo se abandonar
à orgiaca oferenda da sensualidade 

tudo mais será ilusão
daquelas que fazem jeito ter sempre à mão
se nada nos vincula à realidade





leal maria

sábado, 21 de junho de 2008

porta aberta


aqui estou
espero-te
embalado na regular sucessão dos dias
não consta que houvesse alguém que curou
a saudade com poesias

entra
está a porta aberta
meu desespero não te impeça de entrar
não ligues a esta minha mão deserta
à espera que a tua a venha agarrar





leal maria

sexta-feira, 20 de junho de 2008

ruínas


são minhas as ruínas
é meu o corpo espalhado ao comprido
grafia enviesada de uma leitura de más sinas
mau fado renascido

ouve-se nítido o silêncio no cantos da cotovia
a luz cedeu perante a escuridão
pouco resta dos sonhos que havia
desvanecem-se em podridão

o vazio ocupa os espaços
deixado pelas palavras que se perderam
e os tão esperados abraços
a tanta espera não sobreviveram

tão p´ra lá do adeus
tão p´ra cá da partida
amores que nunca foram meus
sonho sonhos que nunca quis parte da minha vida


leal maria

obsessão


persisto na quimera improvável
demanda do que tanto desejo:
a palavra na alma
meu lábio no fogo do teu beijo


leal maria

distâncias de um desejo

ali
enredada num sorriso
entre a timidez e o embaraço
meu paraíso
à curta distância de um abraço

translucida e ténue ideia
do meu amor em todos os tempos verbais
maré cheia
todos os vendavais

apenas sonhos perdidos
que o meu olhar no teu reflectiu
o desespero dos sentidos
por um sonho mais que se não cumpriu



leal maria

quinta-feira, 19 de junho de 2008

infâmia

sonhos arrancados
a quem só pede para os sonhar
mudos gritos desesperados
frágeis corpos de fome a definhar

mãos ressequidas pela espera
entendidas numa improvável esperança
a terrível fera
fazendo inchar a barriga da criança

cheios de si
vêm os “cães”
dizendo-se senhores do mundo
que nem matando as putas das suas mães
nos livramos do seu parasitismo profundo

politica serôdia
sobre cadáver putrefacto especulando
fazem amarga toda a dura côdea
não cuidando de quantos estão matando

mas haverá sempre quem cerre fileiras
não se iludindo com as suas patranhas
não deixaremos ser petróleo o cereal na eiras
nem que tenha-mos de lhes abrir as entranhas


leal maria

quarta-feira, 18 de junho de 2008

por entre as ruínas da minha alma

e há o sonho que de novo regressa
na renovada saudade das coisas perdidas
sôfrego por tanta pressa
em regressar às emoções antes sentidas…
  
por quantos muros terei de me cercar
para me pôr a salvo da ilusão?

leal maria

terça-feira, 17 de junho de 2008

lírico

contigo trazias
a melodia furtada
do som das ondas sob um puro luar
estrela
por mil luzes alumiada
consumida numa imensa vontade de amar

leal maria

segunda-feira, 16 de junho de 2008

D. Quixote amando moinhos de vento

lavra da minha mão calejada
agrestes arquitecturas do sentimento
alma nua
esfacelada
ávida de um fugaz momento

imenso giroscópio alucinante
insanos pesadelos de moinhos de vento
decrépito D. Quixote montando o rocinante
declamando a Dulcineia o sentimento

ao sonho o que por direito lhe pertence
à realidade não sei que com ela fazer
como vencido da vida
tudo me convence:
de tanto sonhar pelo sonho vou morrer



leal maria

Afrodite renascida

os teus abraços
sonhos e sôfregos beijos
amor desenhado em finos traços
aguarela dos desejos

pura
a nova Roma amamenta-se no leite do teu seio
há ternura  
no teu corpo onde me semeio 


leal maria

domingo, 15 de junho de 2008

promessas de verão

sol de verão
no teu corpo pelo mar salgado
leve toque da minha mão
tomando posse desse corpo suado

a esperança
nas coisas prometidas
vã segurança
dos sorrisos onde são multiplicadas as vidas

ternura
fugindo ao absoluto nada
vertiginosa corrida para a loucura
pela ilusão justificada


leal leal

toque



pele
perfumada a sensibilidade
vassalagem à suave sedução
subtil toque
antecipando saudade
confusa geografia
onde me treme a mão




leal maria

um adeus ao entardecer

a melodia que ouço
neste suave entardecer
prenuncia a  noite
vem-me adormecer

sem a subtileza de Chopin num nocturno
apenas sons que me tremem no peito
bater de teclas soturno
num adeus imperfeito


adeus



leal maria

sexta-feira, 13 de junho de 2008

o teu sorriso


o teu sorriso 
a geografia da minha nação


leal maria 

quinta-feira, 12 de junho de 2008

no princípio era o verbo

adjectivos, preposições
substantivos, pronomes, determinantes
o bater dos corações
os sentidos amantes
 
 
 
leal maria


quarta-feira, 11 de junho de 2008

cais da loucura

é este também o meu cais
esta é a loucura que escolhi
um navio mais
que aportou aqui



leal maria