sábado, 6 de dezembro de 2008

o canto da memória

guardo-te a um canto,
no mais profundo de mim
entre uma ténue luz
impondo-se à escuridão
nesse canto
está a essência de onde eu vim
o húmus
que fertilizou o meu primordial chão

fazem-te companhia
as coisas da minha memória
por vezes esquecidas,
mas nunca deitadas fora
e nos caracteres
com que escrevo a minha história
deixo-me à tua guarda
quando me for embora

sussurra-me na alma
(ela sempre te escutou)
as palavras
que me atormentaram por tanto as desejar
esqueça-mos o tempo
que para trás ficou
que eu vou adiante
e somente te deixo o meu sonhar

não! não sou eu que vou partir
nem tão pouco irei chegar
é outro que no meu corpo há-de vir
que o meu “eu” está já cumprido
e vai contigo ficar

guarda bem essa minha antiga morada
nela ficará o sal do meu mar
que entre a partida e a chegada
aí, nunca por ti findará o meu amar

que interessa o passado ou o futuro
aí…. será sempre presente
o tempo não se metamorfoseia num muro
e perene se torna
o que no momento se sente

outro “eu” ocupará o “espaço”
que foi o meu lugar no mundo
feito pelos fragmentos
dos muitos que me fizeram
que a vida
é um suspiro de um sonho profundo
e comigo levarei, a essencial substância
“desses” muitos que me antecederam




leal maria

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