terça-feira, 30 de dezembro de 2008

violentas liturgias

as circunstâncias consomem-me os dias
devorando-me aos sonhos o sentido original
percorro o ilusório caminho das poesias
faço-me um deus para lá do bem e do mal

e as horas que aborto de um prazer desmedido
metamorfoseando o tempo num embaraço
barricam-me entre o que encontrei e o que tenho perdido
nas violentas noites em que de solidão me abraço

vejo nos corpos com quem permutei ilusões
contabilizadas as almas que logrei enganar
assaltam-me inquietudes em feéricas explosões
deslumbrado, vejo a destruição em mim de tanto amar

cinzentas; as ruas da minha cidade
pejadas de tantas gentes que a fazem deserta
matizam-se entre a indiferença e a saudade
e é para o pesadelo que o meu sonho desperta

nos passos apressados de quem de si se esquece
um burburinho de gente amansada é o que ouço
predador… sempre à espreita do que acontece
um ultimo e desesperado assalto àquele olhar não ouso

deixo-o estar no limbo para o qual remeto o divino
nesse paraíso feito da substância do sonhos
entre a glória grávida no gesto mais pequenino
e o violento rugir de batalha dos deuses medonhos

amantíssimo da força desmedida
o mais das vezes fornicando-a num leito de espanto
a surpresa com que me encontro no lado frágil da vida
amordaça-me em melodias de um triste encanto

sonho… sonho… sonho…
habito o vazio do que de nada se substância
altar de engano onde o meu holocausto ponho
em adoração a um demónio, que inocente; de nada sabia




leal maria

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