terça-feira, 26 de outubro de 2010

...deste mundo cá dentro

na desesperada procura de um sentido para tudo
alicercei-me
de toscas retóricas que falseiam a realidade
ignóbil dialéctica
com que substanciei um idioma quase mudo
obstinado esbater de fronteiras entre a mentira e a verdade

quis o sonho promessa de um paraíso possível
recusei dar-lhe forma em limites aceitáveis
aos tropeções
avancei de um para outro nível
permutei essências não permutáveis

agora
quando já só me resta uma cidade em escombros
somente gritos habitam as suas ruínas
pretéritas irresponsabilidades
pesam-me em demasia sobre os ombros
como se concretizassem
todos os anátemas a mim lançados em dia de más sinas

caminho por entre corpos caídos
há neles fisionomias que no passado me desenharam o rosto
vitoriosos semblantes
na mais natural posição dos vencidos
como se fossem laureados a contra-gosto

confrontado com esta minha natureza ubíqua
perante a contradição de sentir-me de tudo exilado
travo uma batalha improfícua
onde combato num e outro lado

não há outro resultado possível que não seja a minha vitória
ainda que isso implique derrotar-me
procuro concluir uma paradoxal história
emaranhado labirinto onde espero encontrar-me

e se tantas foram as vezes em que me perdi
sei-o agora
nunca logrei achar-me
novamente embrenhado nas barbaras nuances das emoções que então senti
tenho como único intuito continuar a procurar-me



leal maria

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