sábado, 13 de março de 2010

estrada romana

agradam-me as pedras que calcetam estradas ancestrais.
há no lustroso polimento de cada uma,
a indelével marca  da pretérita passagem de alguém.
alguém que precedendo outros mais,
decidiu um primeiro passo para ir mais além.

e o tempo,
esse  carrasco que se presta ao subjectivo;
que a todos ceifa,
mas  a cada qual deixa escolher como pretende a intensidade do golpe;
nelas admite a possibilidade de nada ser definitivo.
antevemos-lhes sonhos,
que podem ser alcançados  a pé; de carro... num cavalo a galope.


faz sentido!
uma medida inexacta para tudo o que existe.
estratégia ideal para que nos adaptemos há forma que nos impõem.
ter a ilusão de sermos aquele que resiste;
ainda que todos venha-mos a tocar a música,
que em diferentes nuances, os anos a passar compõem.


por isso gosto dessas pedras que o tempo lustrou.
falso testemunho da viabilidade do eterno.
saber que alguém quando ao seu destino  chegou;
pôde ter a ilusão de ir mais adiante,
se o abraço de quem o esperava não foi suficientemente terno.

a estrada que calcorreio... ainda nela há pedras agrestes.
entremeiam-nas outras mais polidas.
na suas bermas,  oníricas figuras com cerimoniosas vestes,
ostentam fisionomias para a possibilidade de outras vidas.

olho para trás e nem sei se me arrependo dos cruzamentos que  lhe  ignorei.
recusei a indecisão perante o desafio de bifurcações.
nada me indicava as coordenadas do que então busquei.
mal-vindo nuns lugares,
noutros, para me darem as boas-vindas, constituíram-se comissões.

não me atemorizei nem me senti intruso.
tão pouco fiquei agradecido.
que à vida tenho-a fruído num hábito de mau uso;
couraçado na petulância de quem acha que tudo lhe é devido.

em mim se desenhou a anatomia do ódio e do amor.
conquistei e fui também derrotado.
insistente migrante entre a dor e o prazer e o prazer e a dor,
eis-me no meio estrada onde se desenrola uma batalha, sem saber qual é o meu lado.


leal maria 

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