nas ruas da cidade que adormece
é o vazio que predomina
para o absoluto vazio pende o olhar que esmorece
na puta que pode ser mulher ou menina
os néon atraem para a esquina do seu poisio
almas incautas
aureolando-as na contínua ilusão de intermitências em milésimas de segundo
almas habitando corpos que são podres pautas
onde garatujará a triste melodia
da sua irreversível metamorfose em apêndice do mundo
emoldurando vãs promessas de felicidade
os néon
não logram devolver-lhe uma réstia da luz que outrora lhe denunciaria os sonhos
decrépita por uma abreviada mocidade
prazeres alheios
fruem-lhe o corpo materializados em urros medonhos
resquício
incómodo tolerado pelos demais
vida em perpetua queda no precipício
desamor e desprezo
desde sempre são os seus companheiros mais banais
evita perscrutar o olhar dos homens com quem se deita
pretende-se imune ao murmurar de fingidas ternuras
os alicerces que sustêm a sua vida imperfeita
desmoronar-se-iam definitivamente perante um afecto sem censuras
sabe-se derrubada ao chão
esvaí-se de tudo a que possa chamar-se esperança
paradigma de desespero e solidão
precocemente envelhecida sem ter sido criança
resignada ao que em sorte lhe calhou
há muito desistiu
de almejar mais do que uma letárgica paciência
na droga encontra um vislumbre do paraíso que procurou
efémero exílio nas acidentadas geografias da sobrevivência
leal maria
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