segunda-feira, 1 de março de 2010

estádio de sítio




o mundo, esse,  não acabou.
sucedem-se os dias uns aos outros na sua ancestral constância.
nada do que me faz pertencer-lhe se alterou;
para além de uma ou outra mudança de circunstância.

a chuva cai e sacia a terra;
o sol surge e estimula o emergir de frutos que se anunciavam em flor.
lá, muito longe, há mais um contributo para a perpetuação da guerra;
matam-se os Homens enquanto outros se sublimam pelo amor.

constroem-se novas cidades;
derrubam-se e erigem-se outros muros…
chora-se de alegria e de saudades;
dias felizes entremeiam  outros mais escuros.

algures, um pai, segura orgulhoso, um futuro em aberto nos seus braços.
à sua alegria não a contaminará os gritos desesperados  de uma mãe.
nem a loucura de quem para o precipício dirige  os seus passos;
porque as coordenadas por onde andou o não ancoraram a alguém.  

enfim; tudo permanece igual.
eu, uns dias bem e outros menos mal.
seria feliz, não fosse  a memória;
que me dá a ilusão de faltar de um definitivo e irreversível epilogo para esta minha história.

tão difusas são-me já as recordações…
no deslumbramento não tive a acuidade para o pormenor.
submerso num caleidoscópio de ilusões,
fui mais que eu nos profundos abismos do amor.

nada em mim é sublime;  épico ou heróico,
quando a tudo se sobrepõe a tua ausência.
tento ser estóico,
mas é sempre maior a capacidade da minha resiliência.

tendo sempre a voltar à mesma forma.
em vão tento reformular o que escrevi numa caligrafia de letras tortas.
incapaz de me subtrair à opressiva norma,
abro  e torno a fechar sempre as mesmas portas.

sim, tudo é tão difuso…
um permanente acordar estremunhado.
sonho-te e desse sonho faço mau uso,
ao alimentar um sentimento que se deseja acabado.

com exactidão,
recordo a luminescência no teu olhar;
e também como sorrias.

não o sabia preludio da minha mais intensa emoção.
que tantas e tantas vezes  o iria sonhar…
perder-me nas coordenadas secretas das suas geografias.

sentir…  
retornarei ao  dia que antecedeu a violenta viagem que encetei?
de lá para cá ando a fugir,
à crua realidade das circunstâncias em que te encontrei.


leal maria

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