domingo, 6 de setembro de 2009

o sonho na sua simplicidade

era-me simples o sonho.
como simples era eu o sonhar.
simples também era o seu modo de me habitar:
um imenso mar…
os rios dos desejos vinham-me desaguar.

e havia-me portos e havia-me gente.
uns me chegavam e outros de mim partiam.
tantas foram as vezes em que fui a canção dolente;
elegia de todos aqueles amores
que pela distância em mim se desfaziam.

quantos barcos me aportaram
trazendo-me os cheiros de outros lugares que antevia!?
quantos sentidos, no que fui, se acharam
para que eu os desenhasse em rimas de poesia!?

mas são silêncios que agora me ocupam os espaços…
a ritmada ondulação das palavras já não me lava as mágoas.
desvanecem-se em todas as praias a marca dos meus passos,.
já não ouço segredos no murmurar das águas.

vou perdendo o sul em demanda do norte
argonauta navegando à sorte
sem que a linha da costa veja
derivo para o outro lado de lá, onde o acaso me deseja

era-me simples o sonho…
muito mais simples era toda a dor que me trazia:
coração num anseio medonho
navegar tumultuoso sobre marés de poesia

naufrago neste deserto que sou
nada mais germinará neste exílio que não escolhi
fui o semeador que semeou
toda esta infertilidade de afectos onde agora me perdi


leal maria

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