sábado, 12 de setembro de 2009

Fui tomar o pequeno-almoço à confeitaria da avenida e estava lá uma gaja boa

elevando-se em sinuosos rendilhados,
o vapor
dava consistência ao agradável cheiro a café que da chávena emanava.
acima,
com o olhar e a suavidade do rosto na revista feminina repousados
permanecia alheia ao que a circundava.

mas impressionaram-me as mãos!
ali, cruzadas sobre a perna com discreta elegância.
dedos finos e alvos a pender para o chão;
disponíveis para qualquer eventual circunstância.

deu-me em adivinhar a carícias que nelas tinham emergido…
os sexos agarrados com sofreguidão…
as táctil cicatrizes do anteriormente sentido…
pois… uma mão é uma mão!
mas interessara-me as múltiplas possibilidades das suas anteriores vivências.
saber-lhes com que moldura de gestos ornamentaram discursos cheios de eloquências .
a cor dos cabelos das crianças que acariciaram…
outras mãos que agarraram…

mãos não falam e nada contam,
se não lhes procurar-mos a história no olhar de quem as fruí.
e a despeito da censura implícita nas que apontam,
dei-lhes o beneficio em aceitar a primeira impressão que intuí.

intuí-lhes águas vencendo os ínfimos acidentes dos dedos;
anárquicas e incapazes de se conterem na côncava que haviam formado.
depurando segredos,
que as denunciaria terem amado.

intui-lhes coerentes paradoxos nas suas muitas incongruências.
soube-lhes igual a intensidade no agarrar do punhal e na espontânea carícia.
como muitas outras, tão eivadas de minudências:
habitavam-nas a ternura a raiva e a malícia.

tanto foi o que lhes soube, que vou-me abster de o contar.
convém sempre ter alguma reserva com que segredar.
mas posso dizer que as desejei para mim e me propus ir com elas até ao fim.
daquele dia bem entendido; que não me podia demorar…
à minha espera tinha os “meus”!
em todo caso ela também se levantou e saiu;
não sem antes me dizer um discreto adeus.

sobre a mesa ficou, desprezado, o café.
já frio, dentro da chávena de tosca porcelana.
e nela a delével marca de uma fé:
batom vermelho desenhando a promessa de um beijo,
que a irrepreensível brancura profana.

eu,
levantei, paguei e fui-me embora.
à nascença abortava-se-me um desejo…
o sol, impingiu-me todo o expoente da sua claridade naquela matinal hora…
pássaros chilreavam com todo o seu ensejo.

de repente, tive a progressiva consciência de uma e outra mão
e ao as sentir vazias, soltei uma imprecação…
havia esquecido o jornal!
e que prazer me estava a dar ler aquela crónica cheia de ironias mas ainda assim sentimental…
mas a gaja era mesmo boa, lá isso era!!


leal maria

1 comentário:

Coveiro de Portugal disse...

Caro Leal Maria

Não acordei mal disposto.

Estou farto dos politicos portugueses, são todos uns ladrões de meus impostos.

Nenhum destes filhas das putas merecem meu voto, já agora vamos ser espanhois.

Um abraço.

Coveiro de Portugal