quarta-feira, 19 de agosto de 2009

naufrago

nem sei se o tempo marca passo
ou eu é que me perdi
nos acidentados terrenos de minha alma

tudo a requerer a costumeira calma
e eu afoito
corpo feito num oito
à custa de me preparar
para batalhas de guerras que há muito acabaram
quando somente sobrevive a podre paz
que os anos em mim semearam

“tem calma rapaz!”
digo-me
no meio do tumultuoso silêncio dos pensamentos
e ali me deixo
torturado nesses poentes momentos

mas prevalece sempre esta ânsia de te ver
como se fosse um tem que ser
à revelia da tua perene ausência
à revelia das intermitentes distâncias
desafiando essa certa ciência
que é o ser-se vassalo das circunstâncias

o ali estares
no espaço que medeia o nada e um beijo roubado
a possibilidade de um filho em ti por mim gerado
dos lábios sobre a tua carne saciando-me a fome
o meu imperceptível sussurrar do teu nome
enquanto os deuses fechariam os olhos
às sucessivas carícias que viriam aos molhos
nascendo e desaguando em nossos corpos emaranhados

cercados
por muros pelo sentido erguidos
perseguidos
encerrados numa ilusão de eternidade
fomos expulsos dessa cidade
que antes nos houveras feito passar as suas portas
franqueando-as o teu olhar prenhe de meiguice
eclipsando a horas mortas
como se toda a luz possuísse

ando a vaguear
e urge aportar
a qualquer porto que me dê abrigo
um sentimento antigo
que me resgate a estas águas em que muito naveguei
que tempestades me sobejam pelo muito que já te amei


leal maria

1 comentário:

utopia das palavras disse...

Eclipse foi o sucedido na distância de ti, espero sentir-te!

Mais um poema que me inundou a alma e ultrapassou o racional, quanta sabedoria tem o caminho das tuas palavras Leal Maria...naufragaste nas teias envenenadas da sedução com olhos de carícia...nesse mar manso és náufrago do destino que desenhaste!

Rendida ao encanto sussurrante deste poema!
Beijo