quinta-feira, 27 de agosto de 2009

esse horizonte onde te ocultas

aqui
neste alto promontório que é a saudade
tento ver no horizonte o teu recorte
ansiando captar a essência daquele precioso instante
em que o teu olhar houvera de me falar mais alto que a verdade
sentenciando-me o tempo à morte

mas o sol já se põe
nesse cardial ponto onde procurava de novo achar-te
nada me dá sinal de que lá me esperas
na alma aprisionada
tenho a carícia com que queria aportar-te
na esperança de ainda encontrar em ti aquilo que me eras

mas é cada vez mais ténue a luz
rubro como sangue se vai tingindo o céu azul
já nem a esperança me seduz
a escuridão conquista essas minhas terras ao sul

tenho medo
sim
tenho medo de agora nelas entrar
como se o meu amor fora um bem guardado segredo
e a barbara desilusão de não te encontrar
dê irrefutável testemunho do meu amar
sim
tenho medo

amei-te sempre como se fora minha escolha
como se impávido e sereno
me permitisse sofrer as agruras do amor
mas em cada poema há um verbo que para mim olha
e neles reconheço a semântica absoluta da dor

nada me valeu cartografar
cada ínfima parte da tua geografia
nada me valeu calcular
o declive magnético do teu azimute
sinto o amargo travo da palavra desperdiçada em vã poesia
acabei naufrago em ilha deserta sem nada ter que permute

não sei o caminho para ti e esqueci o de regresso
resta-me a deriva entre a indiferença e a solidão
e ficar totalmente converso
a esta quimera adiada que se assenhorou do vazio de minha mão

se cale o vento
ao passar por entre os sonhos onde te amei
se calem os homens que cantam os amores felizes
uma lágrima
tudo por uma lágrima das que nunca chorei
se ao sulcar-me o rosto também a sentisses


leal maria

1 comentário:

Anónimo disse...

Talvez voltes a encontrar esse caminho daqui a um tempo. Ou até , quem sabe, que ela venha até ti.

Como estás, Luís?