quinta-feira, 16 de julho de 2009

o sol d´outrora

eram as velhas por lutos endurecidas
que somavam os anos
com que vinham pavimentando o caminho que as levaria também à morte
nessa inexorável subtracção dos dias
em que outro remédio não lhes restava
que o resignarem-se à mal fadada sorte

era o tempo das tardes sem fim
sorvia-se quanto do sabor de verão havia
ao longe, por sobre a algazarra, a maternal voz chamava por mim
e eu, cheio de Julho e Agosto e luz, fingia que não ouvia

quantas batalhas aí venci
quantas damas de mim se enamoraram por mor da minha valentia
os beijos não foram menos intensos só porque os fingi
e a energia gasta encontrava-me no jantar e no saciar da fome a pura poesia

nada tinha de incerto
a esperança que em mim morava
ao outro dia haveria sol e eu estaria pela manhã desperto
porque nela só a certeza se encontrava

era o correr sem consciência do trabalhar dos músculos
e o rio onde ia buscar coisas à sua maior profundidade
o deslumbre perante o mundo dos bichos minúsculos
e a total ausência da saudade

era a minha alma sem muros derrubados
ou esta memória onde sepultei tantos sonhos
nem eram tantas as fisionomias recordando-me dias apaixonados
que a atenção estava-me concentrada na ferocidade dos índios medonhos


òooooh… como me lembro!
como eu, a sacar rápido, não havia ninguém...
quanta morte semeei sem que a vida se esvaí-se de alguém!


leal maria

1 comentário:

utopia das palavras disse...

Não pode a memória sepultar os sonhos e matar a consciência do amor!
E o sol... que outrora foi infante é o sol que ora te faz homem!

A intensidade com que marcas as palavras é por vezes perturbadora, e difícil de comentar, mas muito gratificante essa aventura!

Beijo