terça-feira, 14 de julho de 2009

póstuma sanidade

foi-me a palavra póstuma ainda antes de nascer
o gesto
sepultou--me em paradoxos e incoerências
emanado no efémero a ambos fiz perecer
e mergulhei nos ímpetos e deslumbres das más sapiências

perfila-se-me uma bifurcação no caminho que sigo
nem um pouco de angustia me sobrevém perante a incerteza
há uma placidez
que me faz relativizar tudo o que persigo
porque é o caos que procuro na sua original pureza

os músculos retesados perante o incerto
anseiam a acção que deslumbro em meu desejo
à minha frente tudo se faz deserto
na iminência do abismo
que grita a reclamar-me um beijo

deixo para trás a espiral que me prefaciou a loucura
a direcção é agora em frente
num acto de pura rebeldia
recuso a lei que há muito perdura
e à bifurcação acrescento-lhe a bissectriz pungente

será um novo caminho o que farei
sulcar-lhe-á a geografia a minha vontade
como sempre, de mim serei rei
a pedra mestre da edificação de uma outra nova cidade

habitei sempre a penúltima etapa antes do abismo
agora enceto o derradeiro o passo
antecipação do verdadeiro cataclismo
embalado na melodia da vertigem onde me abraço

mais ninguém saltará comigo
serei sozinho nessa liberdade de todos os afectos
para trás deixo os lugares que foram o meu abrigo
vou-me recolher ao limbo onde não entram os espíritos circunspectos

nem escuridão nem claridade
lá, o nada
é também uma real possibilidade


leal maria

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