sou a soma de todas as fracções de que são feitos os instantes
adivinhei a fonte das lágrimas que me agregaram ou subtraíram à felicidade
nos dialectos de tantos corpos amantes
ouvi o espanto que há nas palavras sussurradas com verdade
sonhei talvez o sonho na sua essência original
a ressurreição de todos os desejos que me precederam
uma paz entre o bem e o mal
no efémero sossego de todos “aqueles” que em mim pereceram
mas a mortalidade de mim não se ausentou
e o meu sémen não foi em esperança que se converteu
a demanda do maior sentido que outrora imperou
não logrou derrubar o tempo que o imenso muro ergueu
e em toda esta minha “fome”
ouço vozes iradas e de verve inflamada
um desespero na inquietação que me consome
pelas quimeras ancoradas no absoluto nada
mas o verbo continua meu e nele habita toda a minha intenção
hoje como ontem abjurando as nefastas retóricas e toscas sapiências
mas promessas são a espada de má aço que trago na mão
e há no adivinhar do fim como que um prenúncio de violências
quis o universo em nome da uma noção
escravizei-me na persecução do um ideal
espartilhado entre a escolha de um sim ou de um não
inventei novas nuances para pecado original
agora em todas as coordenadas me morrem os sonhos
oriento-me pelos azimutes da desesperança
embrenho-me nesses caminhos medonhos
onde o choro se ausenta até no anuncio do nascer de uma criança
sou o resquício da original substância do mundo
sou a má matéria de que ele é também feito
a espiral descendente de um fugaz segundo
a morte que sobrevem aos lábios sôfregos na doce suavidade de um peito
livres já não são os corpos quando a mim se dão
e a eternidade dissolve-se na fragmentação dos instantes
em que o coração se desenlaça do meu corpo e o corpo do meu coração
e os deuses deixam de invejarem serem também meus amantes
leal maria
segunda-feira, 1 de junho de 2009
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