terça-feira, 21 de abril de 2009

o silêncio dos gestos

é nos silêncios dos gestos
que me habitas num mal contido desejo
e tornas inócuos todos os manifestos
no lábio em que amordaças o beijo

um morrer e renascer constante
a persistente ideia no pensamento
passado e futuro equidistante
olhar que torna único o momento

és-me luz e escuridão
numa pornográfica promiscuidade
o suave toque da mão
tornando-me insuportável a saudade

és o frémito que me percorre o corpo
antecipado ao prazer que não haverá
meu olhar que perscruta o horizonte
procurando o que de ti nunca a mim chegará

és meu sonho sepulto em fantasia
génese de toda a possível aventura
o murmúrio da imperfeita poesia
a promessa de uma improvável ternura

em cada frase que por ti soltei
um elo mais acrescentado à minha prisão
pelo verbo me ergui e pelo verbo soçobrei
e por ele de novo emergirei da solidão


leal maria

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