quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pela manhã, no café…

é esse teu olhar
e o brilho que nele há do universo
é essa canção que vens a trautear
saboreando-lhe a palavra de cada verso

é a incandescente luz do sol matinal
a entrar pela vitrina do café à hora morta
a crónica de fina ironia no jornal
que finalizo ao ver-te entrar pela porta

é a criança rindo descomprometida
e o seu brinquedo aos tombos pelo chão
é a promessa política não cumprida
discutida no programa de rádio-difusão

é a revista da mulher nua
exposta ao olhar de quem a ver quiser
é o sentir-me na lua
ao ver-te caminhar para mim tão mulher

é o abraço e o beijo
o sabor da tua carne com leve travo de adocicado sal
é o meu intenso desejo
e a personificação em ti do mais belo pecado original

são as velhas esmiuçando tudo o que é vida alheia
enquanto tu que me envolves num abraço de ternura
é em mim esta emaranhada teia
que me povoa ainda os sonhos perdidos na noite escura

é tudo e coisa nenhuma
incluindo também este chá e o seu etéreo vapor
como um querer navegar ao ver o mar e a sua espuma
é a eterna procura do impossível amor

quero tudo aquilo o que tens para me dar
não prescindo sequer de um fim dramático
não questiones a veracidade do meu amar
que tudo em mim é volátil e recuso o estático

deixemo-nos assim estar… só promessas
que interessa que as cumpra-mos ou não
vivamos este tempo sem pressas
que tudo o mais não passará de um imenso tesão

rejeita essa lágrima que te sulca o semblante
leva com ela muito do encantatório brilho do teu olho
o arrepio que percorre o teu corpo amante
antecipa a carícia que em ti inconscientemente escolho

deixa aí estar, suavemente, a tua mão sobre a minha
com a que tens livre pede ao homem um café
que a minha alma de caminhar tão sozinha
habituou-se à solidão e à ausência de fé….


leal maria

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