é a entranhável ausência…
em tudo se imiscuindo
o gesto, que dando a sua anuência
acolhe de braços abertos o adeus que aí está vindo
é o cair no abismo alucinante
a turbulência duma alma em esconjuro
um inferno mais complexo que o de Dante
comédia de sombras que se vêm no escuro
é o verbo isento de toda a acção
é a espera sem que no olhar aja esperança
é o vazio deixando a descoberto todas as linhas da mão
um mundo onde não se ouve o riso de uma só criança
espada onde o sangue se vai renovar
músculo do antebraço da mão mutilada
profeta sem um Deus ou boa nova para revelar
ex virgem ensanguentada entre pernas, dizendo-se enganada
é a rima confusa duma complexa poesia
o ritmo de um choro compulsivo
um mar matinal sem cheiro a maresia
frase desprovida de todo o substantivo
é o corpo jovial de ressequido seio
sexo sem um só gemido
ódio que sub-reptício se mete de permeio
suicida circunspecto aceitando-se perdido
é o poema subordinado à melodia
música tocada com o mínimo talento
é a má dicção declamando poesia
o morrer do mais intenso sentimento
é o orgasmo de um Deus enganador
divindade de tantos nomes medonhos
é o grito arrancado pelas mãos do torturador
o castrar de um homem aos seus profundos sonhos
é o desejar-se já morto
a vida periclitante que acaba por soçobrar
um só ter olhos para ver o mundo torto
a rejeição de quem se deseja abraçar
e sou eu aqui; escrevinhando sentado
observando-te amiúde nos intervalos desta minha lavra
vendo o teu corpo nu por mim saciado
contaminando toda a minha tormenta masturbada na palavra
sou eu aqui… já p´ra lá de todos os medos
entorpecido no desejo acomodado
cheio de remorso por ser senhor de tantos segredos
quando me sussurras a ternurenta redundância: “amo-te, meu amado!”
leal maria
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
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