sábado, 10 de janeiro de 2009

um céu... sem pássaros que o voem

nas palavras que sobre o nada escrevo
espartilho todo o meu sentir
talhado nos caracteres em relevo
numa outra possibilidade de um existir

e por vezes, torna-se ínfimo o verso
não abarcando toda a tempestade
que é a minha alma no seu reverso
a moer tormentos de uma inventada saudade

amores que amo nesta dimensão
guerras que nela patrocino
génese maior de toda a ilusão
eternidade ideal como almejado destino

mas hoje; sobrevem-me um desencanto
de ver maior a palavra que o sentimento
fere-me a suavidade do doce canto
que é o sentir parido na dor de um lamento

vejo tudo não passar de vãs quimeras
inventadas no meu eu inquieto
fraco alicerce de eternas primaveras
povoando-me um bárbaro país sem dialecto

sou do tudo e do nada
verbo por entre cruéis adjectivos
filosofia escondida numa poesia acabada
na total ausência de objectivos

renasço sem nunca ter existido
recrio um sonho que nunca fora sonhado
num outro corpo sentido
disperso nos corpos por quem fui amado

olho…
acabou o plenitude daquele voar
cansado; pousou o pássaro no chão
o vento que o fez nos céus dançar
sopra agora sobre a desértica aridez do meu coração

e no entanto… ainda é tanto em mim!




leal maria

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