terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O gesto…

meu corpo órfão
quando do teu corpo se apartou
perdeu-se
em esconsas veredas dum desejo reprimido
murmurando
as canções que a tua voz outrora lhe cantou
numa ancestral melodia
de um tempo há muito perdido

e agora, no leito em que te sonhei
deposita-se um esquecimento
pela passagem dos dias
cobrindo de murmúrios
a intensidade com que te amei
abafando-me os gemidos
que sulcaram as geografias onde te perdias

restam-me os gestos
que nas minhas brutas e toscas mãos ensaiei
perdido
no emaranhado de tantas hesitações
sem memória
do prazer que então busquei
deixo à deriva o sentir
que nos habitou os corações

desse fogo
com que então, loucos, nos amamos
pouco mais resta do que as suas cinzas escuras
nada retivemos
do que tão afoitos buscamos
a não ser a ilusão
de que ousamos ternuras

hoje, são solitários os nossos passos
cada um de nós
recriou-se no seu próprio mundo
e de todas as promessas por entre beijos e abraços
nada resistiu ao fatal segundo…
…quando te acenei um adeus!



leal maria

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