segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

a semântica de um sonho acabado

tu e eu
com as palavras nos lábios ardendo
enredados nas entrelinhas do que sentimos
vemo-nos já perdendo
o rumo da história em que iludidos persistimos

e na esconsa representação que fizemos
das personagens que então sonhamos
projectamos o mundo que quisemos
deixando para trás a realidade que abandonamos

mas os gestos suspensos no tempo
que nos marcava a ilusão de eternidade
deixou-nos nas mãos o contratempo
de uma perene e dura saudade

tudo agora desaba no caos da normalidade
lentamente
apreendemos a semântica de um sonho que acabou
e o significado do que foi a nossa verdade
encerra-se nesse dicionário que o tempo fechou

somos ambos filhos de um deus ausente
anjos caídos em desgraça
pretérita caligrafia escrita no presente
num cruel verbo que de abandono nos abraça

resta-nos agora os olhares fugidios
que se cruzam em mal contidos embaraços
e fazemos segredo dos nossos dias vazios
embrulhando vacuidades com espalhafatosos laços


leal maria

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