domingo, 14 de abril de 2013

lavrador



confesso
nada há de espesso
nas miríades de palavras lavradas em vão
reconheço existir razão maior
(erra quem o considerar um pormenor)
no cavar a terra e emprenhar o chão

nos ofícios há o concreto
e a óbvia mais-valia
nas palavras
somente o pretensamente secreto
quando a inconfessável vaidade
ornamenta a prosa de poesia

mesmo um grande amor
quando nas palavras plasmado
não passa de um metamorfosear da paixão em dor
lamuriante e lamentável ritual de apaixonado

nocivo alimento
da eternização deste sentido em meu peito
arquitectura fundeada em oníricos ideais
sentimento adulterado pelo que tem de tão imperfeito
desejar com esperança o que satisfeito será jamais

sim, confesso
sou legitimo alvo desse dedo acusador em riste
somente peço
que o orgulho complemente a minha fisionomia algo triste

orgulho sim
é licito o meu crime porque o cometi convicto
sem outro intuito de que me declarar no fim
ser impossível ter-me mantido invicto

vencido já o era antes de o ser
quando couraçado no querer tanto querer
tão voluntariosamente parti para esta “guerra”
tão mais simples seria ao invés de palavras, lavrar a terra

leal maria

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