domingo, 12 de setembro de 2010

no verão que acaba, o fim do amor

 na desesperada procura de um sentido para tudo
 alicercei-me
 de toscas retóricas que falseiam a realidade
 ignóbil dialéctica
 com que substanciei um idioma quase mudo
 obstinado esbater de fronteiras entre a mentira e a verdade

 quis o sonho promessa de um paraíso possível
 recusei dar-lhe forma em limites aceitáveis
 aos tropeções
 avancei de um para outro nível
 permutei essências não permutáveis

 agora
 quando já só me resta uma cidade em escombros
 somente gritos habitam as suas ruínas
 pretéritas irresponsabilidades
 pesam-me em demasia sobre os ombros
 como se concretizassem
 todos os anátemas a mim lançados em dia de más sinas

 caminho por entre corpos caídos
 há neles fisionomias que no passado me desenharam o rosto
 vitoriosos semblantes
 na mais natural posição dos vencidos
 como se fossem laureados a contra-gosto

 confrontado com esta minha natureza ubíqua
 perante a contradição de sentir-me de tudo exilado
 travo uma batalha improfícua
 onde combato num e outro lado

 não há outro resultado possível que não seja a minha vitória
 ainda que isso implique derrotar-me
 procuro concluir uma paradoxal história
 emaranhado labirinto onde espero encontrar-me

 e se tantas foram as vezes em que me perdi
 sei-o agora
 nunca logrei achar-me
 novamente embrenhado nas barbaras nuances das emoções que então senti
 tenho como único intuito continuar a procurar-me



 leal maria

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