houve um tempo em que tive a veleidade de tombar gigantes.
moldar o mundo à conveniência do meu querer.
sim;
um tempo feito pela medida dos meus perfeitos instantes.
e o sonho era o único caminho que me permitia percorrer.
mas o tempo é-me isto mesmo:
albergue dos fantasmas de mim que fui deixando para trás ao longo do caminho.
afoito, desbravei-o a esmo;
e dos muitos que fui, somente sou este que agora aqui vai caminhando sozinho.
mas ainda lhes ouço as vozes.
lamurias que desejava incompreensíveis.
mau grado a etérea natureza dos seus corpos; correm velozes,
apanhando-me neste tempo de naturezas tão susceptíveis.
nos seus antigos dialectos, relembram-me que foi por eles que falei.
fazem-me saber que os anseios sob os quais pereceram eram os meus.
forçam-me a almejar de novo o que então em desespero busquei.
obrigam-me a representar de novo o Homem-Deus.
mas perdi o jeito para brincar a ser um dos senhores do mundo.
os discursos entaramelam-se-me em incompreensíveis retóricas.
esvaio as palavras do seu sentido mais profundo,
no devaneio de travar batalhas de igual importância a outras históricas.
Irra… deixai-me!
Ide;
ide-vos embora.
e despojai-me…
sim; despojai-me daqueles que fui outrora.
estou no antípodas do que é paradigma da intemporalidade,
efémera é-me toda a imortalidade de um momento perfeito a acontecer:
sou a mão calejada de um deus despojado de divindade…
não ouso mais os sonhos que me faziam ansiar cada novo amanhecer.
deixai-me nesta letárgica e doce penumbra,
onde só me rege essa necessidade maior:
não prestar vassalagem a todo o fogo fátuo que me deslumbra;
purgar o essencial ao seu mais ínfimo pormenor.
deixai-me assim; de tudo tão despojado;
recuso o que me dais.
não… não pretendo chegar a nenhum lado;
quero somente a deriva… não aportar em nenhum cais.
se ninguém logrei arregimentar para as minhas causas,
foi porque nelas perdi a fé.
suaves pausas
são aquelas em que não tenho de manter-me firme e de pé.
leal maria
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
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