sábado, 13 de fevereiro de 2010

frio amanhecer de um corpo solitário

podia ter seguido adiante…
pois podia.
mas foi aqui que os seus passos se quedaram.

e no fascínio do fugaz instante
em que o poema acontecia;
não discerniu que fundamentais regras se quebraram.

no olhar trazia abraços antigos
que a saudade na alma lhe petrificara.
e a certeza de vir encontrar em mim abrigos…
a mesma ternura sentida em outras mãos que agarrara.

corpo estranho numa razão que julgava maior;
a solidão era já tanta que resolvera arriscar.
o rosto, belo, sorria como quem mendigava amor;
adiantamento do quão imenso podia ser o seu amar.

podia ter seguido adiante,
mas não foi o que fez.
por aqui se deixou ficar na esperança de que lhe estendesse a mão.
liberta já das mais elementares regras da sensatez,
dispôs-se a permutar corpo e alma por um pouco de ilusão.

e foram tantas as vezes que prometi cumprir-lhe as quimeras.
no seu leito,
murmurei frases que lhe prometiam mais que o mundo.
desenhei,
nas dobras dos seus lençóis, países onde eram eternas as primaveras.
vendi-lhe o superficial como algo de muito profundo.

mas saciados os sentidos do corpo, falou mais alto a minha cobardia.
vassalo que era da circunstância de que nada tinha para dar.
nómada; a meio do caminho entre a prosa e a poesia,
recusei uma breve paragem para uma séria tentativa de a amar.

passei adiante… muito mais adiante…
para lá das ruínas que lhe havia prometido erguer.
em suspenso no seu corpo amante,
abandonei a possibilidade de um outro amanhecer.


leal maria

2 comentários:

utopia das palavras disse...

Podia ser outro o amanhecer...pois podia!

Mãos cheias, corpo coberto dessa essência...de poesia (tu)!

Grata (sempre)!

Beijo

Anónimo disse...

A poesia não é para todos. Você é a prova disso. Espero que tenha mais sucesso em sua vida profissional.

JMS