sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

lesa majestade

<object width="425" height="344">




quando por ti esperava,
o mundo,
era-me um puzzle desconjuntado numa miríade de fragmentos.
uma peça disto; uma peça daquilo; enfim…
belos e anárquicos pedaços de um pouco de tudo o que existia.

fragmentos que pacientemente eu juntava,
numa terna arquitectura dos sentimentos,
alicerçados em todos aqueles sonhos dos quais não desistia.

hoje…
hoje já te não espero.
nem o mundo é o mesmo lugar onde outrora desejei a tua presença:
mais fragmentado é este que habito.

um mundo sem ânsia nem desespero,
de sonhos que me morrem logo à nascença;
e onde dou o dito por não dito.

refugio-me  na convicta negação do que senti.
abordo o amor sem a mínima intenção de qualquer permuta.
é verdade; resta-me ainda uma grande saudade de ti.
mas mesmo isso, não me impede de ser um “filho da puta”.

agora;
toda e qualquer batalha me serve.
sou mercenário perante a vida.
embriago-me na loucura dos vocábulos da má verve,
achando que toda a glória que me é devida.

perscruto os caminhos sem desejar ver chegar alguém...
neles, só me atrai a possibilidade da partida.
olho-os, indiferente ao que neles vem.
não tributo qualquer esperança à quimera que me foi prometida.

entardeço como a luz deste entardecer...
esmaece-se-me a luz que prometia eternidade.
autofagia de um fogo a arder;
lançando sombras sobre o que me é  mentira e o que me é verdade.

nostálgica, chega-me a voz de Joan Baez;
cantando o seu Diamonds and Rust, numa triste entoação.
despir-me a alma foi o que ela fez;
apanhando-me  de viés no preciso momento em que pretendia purgar-me de toda e qualquer ilusão.

bárbara é sempre a ilusão que contra a vontade em nós persiste.
uma palavra; um olhar ou uma musica é o bastante para a despertar.
é arena em que se assiste,
ao combate onde inevitavelmente acabaremos por soçobrar.

sim,
não te esperava e tu mesmo assim vieste.
chegaste como desde há muito o tens feito.
já me não lembro bem como e quando o fizeste;
mas para ti, há um lugar tatuado no meu peito.

foi a sonho e fogo que me o forjas-te.
indelével marca,
que me preenche as intermitências entre a tua chegada e a tua partida.
mais uma vez, tu, por fim chegaste…
corpo presente da memória, que me torna a tua ausência ainda mais sofrida.

 leal maria

Sem comentários: