domingo, 18 de outubro de 2009

marinheiros deste barco

tu
o outro de mim que lá vens
sossega o passo e adia o destino que levas
senta-te aqui e mostra-me o que dentro de ti conténs
a cada descanso que te permites
é mais um lugar onde a luz dissipa as trevas

sei que contigo não trazes nenhuma verdade
por isso reclamo a tua companhia
basta-me saber que do futuro sentes saudade
e ao passado olha-o como se fora um verso mais da universal poesia

deixa-te aqui estar mais um bocadinho
falemos dos amores que perdemos mas também do que podemos vir a encontrar
que quando definitivamente te fores
não irás sozinho
ver-me-ás ao teu lado caminhar

afinal
desde sempre os nossos caminhos seguem paralelos
e ainda que muitas das vezes divirja-mos sobre perspectiva com que um problema se deve abordar
são sempre os nossos diálogos tão belos
que inexoravelmente é a um mar de novas perguntas onde acabamos por desaguar

é bom ser este rio sem um peixe costumeiro
sinuoso mas ainda assim inteiro
onde o navegar não se espartilha numa ciência exacta
e nenhuma barragem nos mata
porque nesta nossa flexibilidade
encontramos sempre uma outra possibilidade
recanto onde acentuamos a erosão
e nos permite passarmos adiante
perene tentativa de domar o destino na mão
contribuindo um pouco mais para o ancestral sonho do infante

levantemo-nos então
olhemos o caminho em frente com a original emoção
como se de agora em diante fosse o primeiro dos dias
seja-mos marinheiros sequiosos de matinais maresias
agarremos firmes os cabos e a esperança
ancorados somente na determinação
que o sonho nunca se alcança
se ganharem raízes os pés quando os pousamos no chão

tu
o outro que eu sou
aquele que comigo o sonho buscou
vem daí e chama também os muitos outros que somos
saiba-mos realizar alguns dos sonhos que sonharam aqueles que fomos
e nesta promíscua multiplicidade
saibamos antever somente o ténue vislumbre da absoluta verdade

vai ser bom chegar ao fim e ainda tanto por realizar
saber que fica ainda tanto por navegar


leal maria

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