sábado, 19 de setembro de 2009

Holocausto a Eros


as sombras amputadas pela aurora
que diáfana entra pela janela
anuncia a regular hora
em que do céu se expulsa a ultima estrela

sombras prenuncio da manhã que em plenitude chegará
afugentam as que se embrenharam nos interstícios da minha solidão
acolho-as na no desagrado de saber que o breu já não disfarçará
o estéril deserto em que se transformou a minha mão

há um sussurro que escuto
mais silencioso que a quietude da noite cujo sepulto principia
cacofonia
suavemente ressonada no aconchegado regaço de Morfeu
sinuoso corpo que não é o teu e bem podia ser a minha poesia
mas não nos dá a vida tudo o que o sonho nos prometeu

em todo o caso, ando mercenário
um corpo
já não me é mais de que um caminho que me desvia do essencial
mas continuo a persistir nesse cenário
como se representasse a dramaturgia fundamental

amo agora consciente
na egoísta atitude de quem dá somente para receber
omnisciente
sorvo sôfrego tudo o que intuo para lá do que posso ver

desbasto corpos como se amanha uma plantação nos campos
liberto-os de todas as “ervas daninhas”
reconstruo-os
prendendo-lhes as minhas mãos como fortes grampos
numa arquitectura
onde lhes tomo as penas sem as permutar pelas minhas

ausências substanciam-me
preenchem-me ainda de mais vazio
as sombras de todas as noites vir-me-ão novamente habitar
resquício de um sonho periclitante
preso à vida por um fio
meu corpo dado em holocausto de desejos, o deus Eros irá engordar


leal maria

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