colhe em mim a seara que lavraste
retira para as sombras meu verbo da tua eira
monda-me as agruras que na alma me deixaste
para que eu esqueça o que é ver o sol pela vez primeira
aridez me seja trazida pelo vento
e os dias me deslizem como areia por entre os dedos
fique deserto de ti o meu pensamento
e semeie-se-me nova sementeira de ressequidos segredos
sou um solo onde reina a infertilidade
o arado do tempo encontrou-me pedras em vez de terra
a ausência desse húmus que dá vida à possibilidade
fez-me inculto de amor e tornou-me campo de guerra
são gritos cheios de fúria os que em mim se ouvem
os gemidos de prazer há muito se silenciaram
deuses furibundos ciosos de que os louvem
lambuzam-se nos corpos que neste lugar que sou se amaram
colhe em mim a seara que lavraste
e teus lábios escondam os beijos que me foram prometidos
vi-os profanos quando o meu nome chamaste
cheia de ternura mas com os gestos de amor no olhar escondidos
de que me vale tal sentido se te apartas de mim
antes a batalha onde se derruba por entre clamores
semearei em chão estranho os sonhos a que darei fim
em silêncio para que de novo não despertem estes meus amores
mais do que a ausência ou a saudade
é o teu silêncio que agora me tortura os dias
meu corpo é um joio bruto e sem suavidade
mordendo o teu seio de trigo nas rimas das poesias
sequioso
há muito que tenho sede de ti … minha água
mas não posso
esperar-te eternamente nesta minha mágoa
tu tens outros campos para se lavrarem
e eu ganho definitiva consciência de que nunca chegaste
para que não sejam muitas as ilusões que se estragarem
colhe em mim a seara que lavraste
leal maria
,,,
PS: A frase que dá titulo ao poema “colhe em mim a seara que lavraste”, foi-me gentilmente oferecida, em jeito de desafio, por essa escultora da palavra, de seu nome Ausenda, autora do blogue de poesia “Utopia das Palavras”
sábado, 4 de julho de 2009
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2 comentários:
Leal Maria
Ontem comentei este post, mas acho estranho não aparecer já que hoje percebi que vieste ao blog, pois tens um poema postado também ontem.
Diz-me se ficou gravado ou não.
Como tens moderação nos comentários não precisas de publicar o que aqui escrevi agora, pois foi a única forma de poder contactar (logísticamente) contigo. Podes responder se assim o entenderes para o meu mail cor.de.abri@hotmail.com
*As palavras com que me desafiaste não estão esquecidas, estão simplesmente germinando no meu regaço!
Espero notícias
Um abraço
Pensei que seguisses por um caminho de vida e de alguma exaltação no sentir a seara despontando, mas não, preferiste vincá-lo com laivos de autofragelação, para que a ilusão não crescesse como erva daninha, ou antes que se fizesse trigo. Ficou divino, semeado pelas tuas mãos...!
Uma experiência de muito gozo!
Parabéns!
Beijos
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