sábado, 4 de julho de 2009

colhe em mim a seara que lavraste

colhe em mim a seara que lavraste
retira para as sombras meu verbo da tua eira
monda-me as agruras que na alma me deixaste
para que eu esqueça o que é ver o sol pela vez primeira

aridez me seja trazida pelo vento
e os dias me deslizem como areia por entre os dedos
fique deserto de ti o meu pensamento
e semeie-se-me nova sementeira de ressequidos segredos

sou um solo onde reina a infertilidade
o arado do tempo encontrou-me pedras em vez de terra
a ausência desse húmus que dá vida à possibilidade
fez-me inculto de amor e tornou-me campo de guerra

são gritos cheios de fúria os que em mim se ouvem
os gemidos de prazer há muito se silenciaram
deuses furibundos ciosos de que os louvem
lambuzam-se nos corpos que neste lugar que sou se amaram

colhe em mim a seara que lavraste
e teus lábios escondam os beijos que me foram prometidos
vi-os profanos quando o meu nome chamaste
cheia de ternura mas com os gestos de amor no olhar escondidos

de que me vale tal sentido se te apartas de mim
antes a batalha onde se derruba por entre clamores
semearei em chão estranho os sonhos a que darei fim
em silêncio para que de novo não despertem estes meus amores

mais do que a ausência ou a saudade
é o teu silêncio que agora me tortura os dias
meu corpo é um joio bruto e sem suavidade
mordendo o teu seio de trigo nas rimas das poesias

sequioso
há muito que tenho sede de ti … minha água
mas não posso
esperar-te eternamente nesta minha mágoa

tu tens outros campos para se lavrarem
e eu ganho definitiva consciência de que nunca chegaste
para que não sejam muitas as ilusões que se estragarem
colhe em mim a seara que lavraste


leal maria

,,,
PS: A frase que dá titulo ao poema “colhe em mim a seara que lavraste”, foi-me gentilmente oferecida, em jeito de desafio, por essa escultora da palavra, de seu nome Ausenda, autora do blogue de poesia “Utopia das Palavras”

2 comentários:

utopia das palavras disse...

Leal Maria

Ontem comentei este post, mas acho estranho não aparecer já que hoje percebi que vieste ao blog, pois tens um poema postado também ontem.
Diz-me se ficou gravado ou não.
Como tens moderação nos comentários não precisas de publicar o que aqui escrevi agora, pois foi a única forma de poder contactar (logísticamente) contigo. Podes responder se assim o entenderes para o meu mail cor.de.abri@hotmail.com

*As palavras com que me desafiaste não estão esquecidas, estão simplesmente germinando no meu regaço!

Espero notícias
Um abraço

utopia das palavras disse...

Pensei que seguisses por um caminho de vida e de alguma exaltação no sentir a seara despontando, mas não, preferiste vincá-lo com laivos de autofragelação, para que a ilusão não crescesse como erva daninha, ou antes que se fizesse trigo. Ficou divino, semeado pelas tuas mãos...!

Uma experiência de muito gozo!
Parabéns!

Beijos