sábado, 13 de junho de 2009

o pó que levanto nos caminhos

porque anuncias ao que vieste?
não sabes por acaso guardar um segredo?
olha e vê o que fizeste:
despertaste a solidão com tudo o que ela traz de medo!

porque ficas aí nessa amorfa placidez?
olhas, por ventura, algo no nada que te anuncie o fim do muro?
guarda-te dessa desilusão, pois contém tanta acidez;
e são tantos os muros que é por isso que tudo está escuro!

vem! aconchega-te a este recanto onde eu já estou!
foge dessa violência que agora se solta…
tudo vai piorar quando chegar o que ainda não chegou…
e eu e tu, então, anunciaremos que estamos de volta!

agora temos é que ter paciência absoluta…
tudo se fez para que nos preparasse-mos!
o que me é alma está resoluta;
e só a carne em nós jogou para que nos apartasse-mos.

mas conquanto estejas aí e eu o saiba,
nada me fará soçobrar ou mesmo perecer!
porque não há sonho que em mim não caiba,
se assim for a urgência do meu querer…

que soltem os ventos e todas as fúrias das marés…
contra mim nada podem, porque eu personifico a contradição!
abraça-te a mim com toda a essência daquilo que és…
será teu abrigo o meu corpo e a fronteira de tudo a minha mão!

afinal, tudo é uma luta onde se digladiam a capacidade e a sorte;
e a circunstâncias mais não fazem de que nos afiar os punhais!
há muito sei ser filho de uma vida que se gerou da morte!
há muito sei que para onde eu for é esse o lugar para onde vais!

vê que nada te apresento como tua escolha!
nada tens que decidir sobre o que te espera ou que o futuro te destina!
a linha do horizonte tudo esconde quando se a olha…
mas é o que nela não vejo que tudo me ensina!

as velhas da minha maior ancestralidade,
vêm-me a meio das noites mais solitárias aconchegar…
trazem de novo as suas histórias em que a ilusão era a verdade
e cheiram ao intenso bafio da saudade;
mas as curvas das suas costas nem a morte as conseguiu endireitar!


porque são as coisas assim no universo!
tudo é enviesado; tudo é torto!
somente a perpendicularidade da rima de um verso,
o impede de ser dado como morto!

atrás de mim vejo uma criança sentada num banco de carpinteiro;
e o velho ao seu lado oferece-lhe um cigarro que fumará com prazer.
também lá estas tu com aquele em que fui primeiro;
e aí… somente aí; tu e eu continuaremos a eterna vida de onde se ausentará todo o morrer…

entretanto; faz silêncio para que os silêncios ocultos não despertem…
as palavras que calam encerram o terrífico pormenor!
se acordam corremos os risco que desertem...
e isso seria matar a possibilidade da continuidade do amor!

se assim acontecesse,
onde iríamos buscar a justificação para tudo o que já se passou?
valia mais que antes de se nascer se morresse
e não ter levantado o pó dos caminhos por onde se andou!

mas isto são palavras minhas
arrancadas à força à mais profunda solidão!
sem ajuda de ninguém as fiz emergir sozinhas
e sozinhas se criaram órfãs da minha mão!

a esquerda!
que a direita entreteve-se a acariciar um demónio porque um deus a rejeitou!
não deve ter-me reconhecido! ou então esqueceu quem eu sou…



leal maria

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