domingo, 14 de junho de 2009

desenha-se o sonho a giz

os desafios que lançamos …
os amores que não escolhemos…
os sonhos que alcançamos…
os corpos que não temos….

que é tudo isso para que em nós seja tanto?
interligações que o tempo e o espaço irá quebrar…
e ali ficaremos naquele maior espanto,
que é ver surgir e morrer do nada um muito amar!

nada nos diz que amanhã ainda seremos nós!
mesmo quando só deixamos desaguar –nos o que perdura…
fatalmente
desaprenderemos os segredos com que atamos todos os nós;
e para nos atormentar,
ficar-nos-á somente a memória da ternura.

aí, o que faremos com o que nos ficar nas mãos?
olharemos para o lado e renegaremos aqueles que já fomos?
mas as marcas dos nossos passos ficam impressas em tantos chãos…
constantemente lembrando-nos o passado,
para que não nos percamos naquilo que somos.

vamos deixar-nos então, naufragar na sensibilidade!
as pétalas, flutuando nas águas, agitam-se no ventre da delicadeza…
ver-nos-emos sempre arredados da maior idade,
e o sonho acabado ser-nos-á sempre a maior certeza.

tão breve é o poema… mais breve é a juventude!
depois de na vida passar-mos à outra metade,
pela frente só somos senhores de um terço da maior virtude.

que a outra parte se fica no delicado traço
com que se desenham os sonhos de um tempo sem idade
e se faz mais intenso o abraço
por sentirmos a ausência roubar-nos toda a possibilidade

tudo se resume à magia da palavra e à confusão da forma do verso
e aqui estou eu a falar contigo e parece que é comigo que converso

mas o tempo não está para carpir mágoas,
porque há muito que a tempestade assola o meu “país”!
ainda antes de a flor cair às águas
etéreos traços de um lápis me desenhara o sentido a giz .

é a giz que se desenha o sonho,
porque tem como destino o desvanecer-se.
nele reside toda a vã esperança que na vida ponho,
pois sou um homem que ainda tem de conhecer-se …



leal maria

3 comentários:

utopia das palavras disse...

Para estar com as tuas palavras é preciso ser livre, para que os sentidos se inflamem e em uníssono possam beber a poesia!

Quebra o molhe, mas não quebra o mar
As mãos quando se dão, são aço
Qual tempestade, onde o vento recusa dar
O beijo de bonança, que se faz passo!


Beijo ou abraço, tanto faz!

Anónimo disse...

"(...)que a outra parte se fica no delicado traço
com que se desenham os sonhos de um tempo sem idade
e se faz mais intenso o abraço
por sentirmos a ausência roubar-nos toda a possibilidade (...)"
Adorei esta parte :)

Sabes, há muitas alternativas ao giz. Se calhar nem é isso o essencial. Talvez, seja qual for o material utilizado, dependa de nós e de tudo o resto. Podemos apenas "divertir-nos", no meio da ilusão, a tentar desenhá-los com diferentes meios.

Márcia disse...

...porque tudo se resume á magia das palavras.