segunda-feira, 9 de março de 2009

onde estão os punhos erguidos?

onde estão os punhos erguidos
que já não os vejo?
que é feito dos gestos decididos
tentando cumprir o desejo?

amorfos, há rostos que desviam o olhar
órfãos da vontade
hesitantes entre a inacção e o lutar
vivendo sob a ilusão de uma esconsa liberdade

e tu… alicias-me com um sorriso
soterras-me em carícias a indignação
argumentas mil e uma razões sobre o que preciso
mostras-me mundos que trazias escondidos na mão

é doce dormência a que me abandono
soporífero castrador de toda a minha raiva
o imperfeito sono
de mim se assenhorando sem que eu o saiba

mas ao longe há vozes que se não calam
sobrepõem-se a todos os gemidos dos amantes
gritam… gesticulam... falam… falam…
e assistem-lhes razões do agora do depois e do antes

há já quem vá despertando da letargia
há já quem gradeie as fúrias com os dedos
esperando a hora certa para soltar a anarquia
numa noite de parto de todos os segredos

deixa-me então apartar o meu corpo do teu
quero esquecer as doçuras do amor e da paz
nada quero do tanto que o teu beijo me prometeu
pois sinto o cheiro a sangue que a fúria me traz

ouve… são meus companheiros os que aí vêm
olha e verás como nos une a mesma sorte
desentranharemos os despojos que os vampiros contêm
dar-lhe-emos um novo rosto para a morte

nada de novo haverá naquilo que fizermos
será a mesma velha violência que irromperá
um tempo em que faremos o que quisermos
num intervalo dessa velha ordem que prevalecerá

reinaremos somente nesse entretanto
proclamar-nos-emos a vanguarda da esperança
e depois de passado o espanto
renovar-se-á o olhar vazio do homem e o choro da criança

e então já não terei os teus braços
solícitos, como um portão aberto
exilado que estarei de todos os espaços
habitando um sonho vazio, num mundo que desejaram deserto


leal maria

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