sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

no arame

no arame…
sobre tantos precipícios suspensos,
no periclitante equilíbrio da indecisão…
amorfos…
vejo amigos, vós, que sois imensos;
confiar o destino em alheia mão!

nascestes com a vida já hipotecada!
outros têm-vos como sua propriedade!
e tudo fazem
para que a vossa voz se mantenha calada,
não vá a algazarra
despertar-vos para dignidade.

e é com espalhafatosos laços,
ornamentando-vos as belas indumentárias;
que vaidosos, vos deixais amordaçar.
mal sabeis que cavais a cova,
onde lentamente vos estão a enterrar.

de sorrisos forçados nos rostos,
habitando-vos um imenso vazio.
viveis os dias engolindo desgostos
com a felicidade
constantemente inalcançável por um fio.

e mesmo assim resignais-vos à vossa sorte.
sempre à espera do Homem providencial.
como se fosse possível adiar a morte;
e ficar a salvo de tudo quanto é mal.

em corpos de sinuosas geografias,
vendem-vos enlatada, a realização pessoal.
obrigando-vos a deixar para trás ancestrais poesias,
numa permuta sempre desigual…

alguém vos toca no ombro esquerdo
e olhais nessa direcção.
alguém faz o mesmo no ombro direito
e dai-lhes também a mão.

mas eis que outros vêm também
reclamar-vos para o centro.
e vós, não lhes tributais o merecido desdém;
não vá algum ter miraculoso unguento.

é nessa improfícua esperança,
que bailais o bailinho dos cordeiros amansados.
à espera da quimera que, garantiram-vos, se alcança,
no altar onde a esses Deuses sois sacrificados.

e das suas retóricas sem substância,
fazeis o filosófico credo
com que alimentais os vossos filhos.
prometendo-lhes,
ser deles o futuro que vislumbram à distância;
abstendo-os de escolher outros trilhos.

arre! arre… que sois bestas de carga!
cuspis nos corpos que se deceparam para vos fazer!
porque adocicais os lábios com bebida tão amarga,
quando o futuro está no que a vossa vontade quiser!?

é tempo de lhes mostrar qual é o caminho!
as escolhas serão tomadas por todos nós!
ninguém reinará sozinho;
que para isso se sacrificaram os nossos avós!

mas… a escolha é vossa!
tendes a opção de olhar em frente ou viver vergados.
mas se vos resignares a viver nesta permanente fossa,
mereceis esse semblante de permanente derrotados!





leal maria

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