o ruído prevalece
invade o que tendia ser silêncio absoluto
resignada saudade
de quem já não espero que regresse
adulterada vontade
travestindo-me a fisionomia com um indissolúvel luto
a inconsistência das ideias
faz grande a perturbação
não há simplicidade no repartido a meias
imensa é a complexidade
no singelo gesto de estender a alguém a mão
sem norte e sem lei
ou o límpido objectivo de quem se atreve
tento concretizar o que em meus devaneios sonhei
quando para parte incerta voei
sem que me baste vida tão breve
e exige-me a contra-senha da felicidade
uma pronúncia de clara dicção
reinventar os lugares da velha cidade
na pura demagogia de um oportuno sermão
mas a arquitectura desses lugares
torna-os imunes ao meu querer
as emoções são por mim representadas em descoordenados esgares
nesse palco cujas dimensões deveria saber
deveria, mas não sei
tropeço em sucessivos enganos escondidos na dramaturgia
e no embaraço de descobrir que me estatelei
leio prosa quando devia declamar poesia
ininterrupta sucessão do erro
que me furta ao desejado anonimato no meio de rostos reconhecidos
alma migrante de desterro em desterro
obrigando-me a ser actor numa cenografia de vencidos
apesar de tudo e agora num diálogo mudo
prossigo o espectáculo
com apupos sobrepondo-se a aplausos algo incongruentes
de obstáculo em obstáculo
vou desenhando no palco
uma geocoreografia de movimentos inconsequentes
geografia dolorosamente talhada
na brutal coreografia das circunstâncias
alma retalhada
pela sobrevalorização de insignificâncias
leal maria
Nota do autor: -geocoreografia - é “erro” intencional
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário