sábado, 18 de dezembro de 2010

nos dias em que te amava

nos dias em que te amava
eram as coisas tão mutáveis como o são hoje
amiúde
o que tinha como certo mudava
havia também esse algo indefinido
que continuo a tentar alcançar e me foge

naqueles dias
em que era grande o meu amor por ti
de tantas promiscuidades contaminando-me os sentidos
tão grande era o desespero como o que agora senti
ao intuir definitivamente perdidos
os mundos que de te amar construí

sim
nada têm de diferente os dias de agora
por comparação com aqueles em que desesperava por ver-te
o mesmo vazio perante a inexorável multiplicação da hora
a mesma desesperada procura
das palavras com que lograria vencer-te

e não sendo diferentes dos de então
têm a desvantagem
de serem massa pouco moldável à disposição da minha vontade
anarquia migrante
dos meus sentimentos em perpétua viagem
manietados
tendente a regressar sempre a uma pretérita idade

mas há que seguir adiante
na contínua fuga à memória dos dias em que te amava
desejar a indefinida linha lá tão distante
onde não se ouçam os ecos
de quando desesperado por ti chamava

que é a vida senão uma fuga em frente
a inevitável impossibilidade de voltar-mos atrás
resta-me a ilusão
que em mim nenhum amor por ti se sente
e a sempre frustrada tentativa
de nos dias somados encontrar alguma paz


leal maria

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