sábado, 2 de maio de 2009

... é nas mãos vazias

… e é nas mãos vazias
nestas minhas mãos rudes e nuas
prenhes de tantas poesias
que trago gravada
toda a geografia das tuas ruas

em cada nome que lhes dás sei-te de cor
reconheço-te no anonimato de cada recanto
vejo as cicatrizes do teu ódio e do teu amor
ouço os gritos dos dias em que te possuiu o espanto

sei-te como és no teu eu mais profundo
intui-te assim tão por inteiro
um universo quedo no meu primeiro segundo
como se ousasse sonhar um deus verdadeiro

tomo como meu o que em ti se desejou
tudo aquilo que te despertou os sentidos
húmus do que violentamente germinou
em gloria de vencedores e honra de vencidos

sei-te na mais pura essência do que és
pois possuo-te no limbo que medeia o sonho e a realidade
um ter-te numa inconstância de marés
em que a mentira se metamorfoseia em verdade

tenho-te tão em mim que há muito te perdi
e faz já muito tempo que te fostes embora
mas continuo a ter-te na memória do que senti
ou ainda sinto…
mas dobram os sinos, anunciando a derradeira hora

cinzela-se o epitáfio daqueles bárbaros dias
em que o silêncio mal imperava no tanto que havia a dizer
gestos dando forma a falsas profecias
decidido que estava o profeta ter de morrer

da terra será o que a terra reclama
ao sonho será devolvido o que diz que é seu
mas é teu corpo que o meu corpo chama
quando se faz senhor
de um outro qualquer corpo que o acaso lhe deu

vem… cinge-me de novo a alma com o teu olhar
deixa que em ti eu veja aquilo que sou; que fui ou que era
olha os pássaros…
vão-se... migram tão graciosos no seu voar
e com eles esvai-se de esperança toda esta quimera



leal maria

1 comentário:

Márcia disse...

...colocas nas palavras que escreves profundos sentimentos...o teu eu!